quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Sobre Chaves




Um dos personagens que mais marcaram a minha infância e, provavelmente a de meus primos, foi, sem dúvidas, o Chaves. Aliás, reforço que todo o grupinho que fazia parte do programa prendia a nossa atenção veementemente.
Nós tínhamos umas bandejas pequenas e, principalmente nas férias, sempre por volta do meio dia, almoçávamos diante da televisão, geralmente na casa de minha avó, cada um com a sua bandejinha, sem tirar os olhos do Chaves e de sua turma.
Recentemente assisti a uma entrevista com o ator Carlos Villagrán, o Quico, e confesso que senti certa nostalgia. Na realidade, a entrevista me induziu a algumas reflexões e, uma delas, me levou a perguntar a mim mesma e a alguns amigos, o porquê do programa fazer sucesso até hoje e, não apenas em países como México e Brasil (possuidores de culturas relativamente semelhantes), como, também, em lugares como Arábia Saudita e Coréia.
Algumas respostas que obtive foram:

• Porque o humor pastelão faz sucesso desde a Grécia antiga.
• E eu sei?!?!?!?!?!??!?
• As pessoas estão cansadas de humor pesado, o humor pesado só agrada a elite.
• Acho o Chaves um sacooooooooooooooooooooooo
• Tem muita coisa do circo ali camuflada.
• Porque a gente sente saudade do Seu Madruga, que já morreu.
• É fácil de digerir e não agride ninguém, não fere islâmicos, xintoístas, cristãos.
• Não sei.
• Não sei, mas sei que adoro.
• Porque nem todas as crianças têm vídeo game.
• Talvez porque o humor de Chaves seja inocente e natural.
• Porque é inocentemente divertido.
• O Chaves?... hmmmm... Sei lá, porque é bom!
• E quem disse que ainda faz sucesso?

Entretanto, aponto que o que mais chama minha atenção é o fato desse tipo de formato continuar agradando a criança contemporânea. É inevitável percebermos que o desenvolvimento da sociedade se deu de forma tão rápida e tão expressiva da segunda metade do século XX para cá que não se poderia esperar de uma criança de 7 anos de idade, há 50 anos, o que esperaremos de nossos filhos. Não me refiro à capacidade de percepção, que sempre foi algo peculiar, cada indivíduo reage de maneira diferente, e isso desde antes de Cristo, mas de conhecimento e acesso às informações de forma mais espontânea, decorrentes da intensidade do processo evolutivo propriamente dito.
Os conceitos mudaram muito, todavia, Chaves ainda encanta praticamente todo mundo por qualquer das respostas mencionadas acima, ou, ainda, por motivos que permanecem desconhecidos.

A origem de minha autarquia



Ainda inconformada, perguntei para um amigo (aquele mesmo, dos 15 minutos no Pelourinho na postagem anterior) se ele sabia a respeito da expressão “minha autarquia”. “É claro! Você nunca ouviu essa expressão?” Naquele instante eu me senti um alienígena em minha própria terra. Então ele me explicou que se tratava de um bordão de um personagem, “Coxinha”. Ele assistiu a um DVD e, pelo visto, os motoristas de ônibus, também mencionados na postagem anterior, o viram. Pesquisei algo pela net e descobri que o quadro foi criado por um humorista, Hiran Delmar, que há 20 anos atua em programas de radio e de televisão no estado do Ceará.
Após conversar com outro amigo, e perceber que aparentemente só eu desconhecia as aventuras de Coxinha e Doquinha, tive a certeza de que eu sou um alienígena. Todavia, embora eu ainda questione o porquê do uso do termo “autarquia”, é indiscutível a criatividade do artista ao encontrar meios para aplicar essa palavra que, até então, só se ouvia quando se falava em Filosofia ou Direito, em um cenário que ressalta a cultura popular por meio da manipulação de bonecos.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

“Ó Pai ó”, “Minha Autarquia” e outras...



Ontem, ao pegar um ônibus de volta para casa, sentei-me em uma das primeiras cadeiras, e não pude deixar de ouvir uma conversa entre o motorista do ônibus em que eu estava e o do ônibus que parou ao lado. Ainda estávamos perto do ponto e, por causa do engarrafamento, eles ficaram a “bater papo” por um tempo. Inicialmente não prestei tanta atenção, estava preocupada com algumas coisas, mas fui despertada repentinamente quando ouvi a expressão em voz bem alta: “Você é minha autarquia!”
Por ter noções básicas de Direito Administrativo (são bem básicas mesmo), conheço o conceito de autarquia e, talvez, por essa razão, o fato tenha, definitivamente, me deixado intrigada. Então, eu fiquei a me perguntar, durante boa parte do percurso, como a palavra autarquia poderia ser utilizada numa tentativa de demonstrar afeto entre as pessoas. Sim, porque eu até pensei inicialmente que se tratasse de uma discussão, mas, como estavam sorrindo, percebi que ser a autarquia de alguém era, de fato, um elogio. Para ser mais específica, eu fiquei tentando estabelecer um vínculo, qualquer que fosse (menos o laboral, pois não era o caso), que pudesse unir as pessoas jurídicas de direito público criadas por lei específica que dispõem de patrimônio próprio e realizam atividades típicas de Estado de forma descentralizada a um ser humano.
O mais engraçado dessa história é que fui remetida a um diálogo que tive com alguns amigos sábado passado sobre o filme “Ó Pai ó”. Eu dizia que a obra era bastante caricata e que a impressão que tinha era a de que estava assistindo a uma peça de teatro filmada. O pessoal rebateu, disse que o filme retrata fielmente a realidade do soteropolitano, principalmente daqueles que residem em determinados bairros da cidade. Um amigo até me sugeriu que fosse ao Pelourinho e ficasse parada a observar a movimentação por 15 minutos que eu teria a certeza de que era aquilo mesmo, exatamente igual.
Pois bem, eu me rendi, mas não precisei ir ao Pelourinho. Acho que a conversa entre os dois motoristas, embora não tenha durado 15 minutos, foi suficiente para me fazer perceber que o filme Ó Pai ó revelou na íntegra tudo aquilo que intencionalmente queria evidenciar.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Detestáveis Sedutores




Não sou psicóloga e, portanto, não me sinto no direito de afirmar que determinadas posturas caracterizam desvio de caráter, mas, é certo que tenho uma tendência natural a considerar a conduta de alguns indivíduos, no mínimo, repugnante.
Sei que muitos podem pensar que estou sendo extremista ao seguir essa linha de raciocínio, mas é inevitável não acreditar, inclusive, que quanto maior a naturalidade com que forem encaradas algumas atitudes, mais cúmplices nos tornaremos delas.
Há algumas semanas, um ex (um paquera que tive, nada muito sério) vem tentando se reaproximar de mim gradualmente. Ele saiu da cidade e, embora durante o tempo em que esteve fora praticamente não tenha mantido contato, talvez, por ter afirmado que tem planos de voltar, tenha julgado interessante me procurar novamente.
Apesar de serem inegáveis algumas qualidades, como, por exemplo, a maneira delicada com que trata a própria mãe, o esforço no que tange a tentativa de melhorar de vida e prover a família, ele sempre demonstrou claros sinais de volúpia que o faziam, na maioria das vezes, cometer desatinos que me levaram a crer que se tratava de uma pessoa, no mínimo, leviana.
Diante desse já conhecido quadro, procurei manter uma postura educada, porem, defensiva e em alguns momentos, “irônica” (sim, eu não poderia deixar de me divertir com a situação). Entretanto, quando ele se atentou as mudanças, em vez de agir com o mínimo de bom senso e respeito por si mesmo e, conseqüentemente, recuar, preferiu se valer do mais baixo dos golpes: pronunciou as três palavrinhas mágicas.
Meus amigos, aquelas palavras que em momento oportuno elevariam a minha crença no ser humano soaram como uma injeção de desanimo. Na realidade, foi um misto de desestímulo e nojo. Talvez uma imensa tristeza por saber que gente assim, que mente como respira, vai sempre tentar se aproveitar da fragilidade alheia e o que é pior, assim como eu, no passado, outras mulheres, principalmente se estiverem vulneráveis por qualquer motivo, estarão sujeitas a essa espécie de canalha e outros bichos.
O que mais me deixa indignada é não ter dúvidas de que enquanto eu estou aqui indignada, ele deve estar respirando e mentindo, e mentindo e respirando, por aí...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Sobre o curioso caso de Benjamin Button



Quando terminou de ser apresentado, não me surpreendi ao perceber que, algumas pessoas, sentadas à frente, aplaudiram ao excelente filme "O Curioso Caso de Benjamin Button". Minha prima, adolescente, assim como outros, também mais jovens, obviamente não perderam a oportunidade de tirar um sarro da situação, e eu, embora tenha ficado na minha, tive imensa vontade de aplaudir também.
Respeitados os aspectos hollywoodianos e, sem a mínima pretensão de comparar a obra aos filmes de arte europeus, achei, sem sombra de dúvidas, um belíssimo trabalho.
Não acredito que seja o suficiente para assegurar o Oscar a Brad Pitt, que, apesar de não ter se saído mal, e de ter cumprido com alguns pedidos da direção (como emagrecer e engordar para melhor se adaptar as fases da vida do personagem), ainda não convenceu a todos de que sua carinha bonita não o ajuda a garantir notoriedade.
Independente de qualquer observação ou crítica vale a pena sermos induzidos a uma reflexão a respeito do comportamento do tempo em nossas vidas.

Entre Carmem e Micaela




La séguedille

Près des remparts de Séville
Chez mon ami Lillas Pastia
J'irai danser la Séguedille
El boire du Manzanilla.
J'irai chez mon ami Lillas Pastia.
Oui, mas toute seule on s'ennuie,
Et les vrais plaisirs sont à deux,
Donc, pour me tenir compagnie,
J'emmènerai mon amoureux.
Mon amoureux... il est au diable,
Je l'ai mis à la porte hier.
Mon pauvre coeur très consable,
Mon coeur est libre comme l'air.
J ai des galants à la douzaine,
Mais ils ne sont pas à mon gré
Voici la fin de la semaine,
Qui veut m'aimer? je l'aimerai!
Qui veut mon âme? elle est à prendre.
Vous arrivez au bon moment;
Je n'ai guère le temps d'attendre,
Car avec mon nouvel amant,
Près des remparts de Séville
Chez mon ami Lillas Pastia,
Nous danserous la Séguedille
Et boirons du Manzanilla
Tra la la la la la la la la
Tra la la la la la la la La




A taberna de Lillas Pastia poderia ser comparada, nos dias de hoje, ao antigo Casquinha de Siri (lugar que atualmente recebe outro nome, mas que, para a maioria dos soteropolitanos, continuará sempre conhecido como “Casquinha”).
Não me imagino freqüentando um estabelecimento como o de Lillas Pastia, porém, embora não costume rodar de braços em braços, despretensiosamente, como Carmem, é certo que meu temperamento forte me impede de ser comparada a Micaela.
A verdade é que não gosto de rótulos e, não entendo a necessidade de se levantar bandeiras. Porque não se pode admitir um meio termo? Porque a obrigação de escolher um lado do muro? Porque não aproveitar o melhor de cada uma e seguir um caminho diferente?
Recentemente, ao conversar com um amigo, deixei escapar um termo chulo. Sei que ele não se espantou pelo termo (que nem era tão chulo assim), mas pelo fato da “gentil palavra” ter sido pronunciada por mim. Confesso que não me incomodar com seu ar surpreso é aceitar que me seja atribuído um rótulo. Não gostei, mas, para não constrangê-lo ainda mais, preferi permitir que ele continuasse acreditando que foi um momento displicente que feriu meu “estereotipo”, nada mais. Todavia, as vezes fico a me perguntar se ele pensa que meu cocô é cor-de-rosa.
Pois é, meus queridos, nem meu cocô é cor-de-rosa, tampouco o aroma é de perfume francês.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O verdadeiro Caminho das Índias


Outro dia conversava com um amigo a respeito da intervenção das novelas na vida das pessoas. A respeito dessa nova trama de Gloria Perez, por exemplo, confesso que, até então, embora já tivesse tido acesso a informações, não tinha me sentido suficientemente motivada a pesquisar sobre o “mundo indiano”. É impressionante como a imagem que se tem é deturpada. Antes de minha curiosidade estimular minha busca, eu tinha a Índia como um país de população altamente espiritualizada. As imagens de Ghandi e Madre Teresa de Calcutá sempre me vinham a mente. Mesmo evidenciando a minha ingenuidade, parece que só agora, após Caminho das Índias, eu consegui entender muitos “porquês” que envolveram a luta desses grandes personagens históricos.


"As pessoas são irracionais, ilógicas e egocêntricas... Ame-as mesmo assim.
Se você tem sucesso em suas realizações, ganhará falsos amigos e verdadeiros inimigos... Tenha sucesso mesmo assim.
O bem que você faz será esquecido amanhã... Faça-o mesmo assim.
A honestidade e a franqueza o torna vulnerável... Seja honesto mesmo assim.
Se você der ao mundo e aos outros o melhor de si mesmo, você corre o risco de se machucar... Dê o que você tem de melhor mesmo assim."

(Madre Teresa de Calcutá)