sexta-feira, 1 de julho de 2011

O amor bom é facinho


Achei esse texto sensacional. Ele desmistifica o que, espero um dia, consiga ser realmente entendido pela maioria das pessoas.

Por que as pessoas valorizam o esforço e a sedução?

Por Ivan Martins


Há conversas que nunca terminam e dúvidas que jamais desaparecem. Sobre a melhor maneira de iniciar uma relação, por exemplo. Muita gente acredita que aquilo que se ganha com facilidade se perde do mesmo jeito. Acham que as relações que exigem esforço têm mais valor. Mulheres difíceis de conquistar, homens difíceis de manter, namoros que dão trabalho - esses tendem a ser mais importantes e duradouros. Mas será verdade?

Eu suspeito que não.

Acho que somos ensinados a subestimar quem gosta de nós. Se a garota na mesa ao lado sorri em nossa direção, começamos a reparar nos seus defeitos. Se a pessoa fosse realmente bacana não me daria bola assim de graça. Se ela não resiste aos meus escassos encantos é uma mulher fácil – e mulheres fáceis não valem nada, certo? O nome disso, damas e cavalheiros, é baixa auto-estima: não entro em clube que me queira como sócio. É engraçado, mas dói.

Também somos educados para o sacrifício. Aquilo que ganhamos sem suor não tem valor. Somos uma sociedade de lutadores, não somos? Temos de nos esforçar para obter recompensas. As coisas que realmente valem a pena são obtidas à duras penas. E por aí vai. De tanto ouvir essa conversa - na escola, no esporte, no escritório - levamos seus pressupostos para a vida afetiva. Acabamos acreditando que também no terreno do afeto deveríamos ser capazes de lutar, sofrer e triunfar. Precisamos de conquistas épicas para contar no jantar de domingo. Se for fácil demais, não vale. Amor assim não tem graça, diz um amigo meu. Será mesmo?

Minha experiência sugere o contrário.

Desde a adolescência, e no transcorrer da vida adulta, todas as mulheres importantes me caíram do céu. A moça que vomitou no meu pé na festa do centro acadêmico e me levou para dormir na sala da casa dela. Casamos. A garota de olhos tristes que eu conheci na porta do cinema e meia hora depois tomava o meu sorvete. Quase casamos? A mulher cujo nome eu perguntei na lanchonete do trabalho e 24 horas depois me chamou para uma festa. A menina do interior que resolveu dançar comigo num impulso. Nenhuma delas foi seduzida, conquistada ou convencida a gostar de mim. Elas tomaram a iniciativa – ou retribuíram sem hesitar a atenção que eu dei a elas.

Toda vez que eu insisti com quem não estava interessada deu errado. Toda vez que tentei escalar o muro da indiferença foi inútil. Ou descobri que do outro lado não havia nada. Na minha experiência, amor é um território em que coragem e a iniciativa são premiadas, mas empenho, persistência e determinação nunca trouxeram resultado.

Relato essa experiência para discutir uma questão que me parece da maior gravidade: o quanto deveríamos insistir em obter a atenção de uma pessoa que não parece retribuir os nossos sentimos?

Quem está emocionalmente disponível lida com esse tipo de dilema o tempo todo. Você conhece a figura, acha bacana, liga uns dias depois e ela não atende e nem liga de volta. O que fazer? Você sai com a pessoa, acha ela o máximo, tenta um segundo encontro e ela reluta em marcar a data. Como proceder a partir daí? Você começou uma relação, está se apaixonando, mas a outra parte, um belo dia, deixa de retornar seus telefonemas. O que se faz? Você está apaixonado ou apaixonada, levou um pé na bunda e mal consegue respirar. É o caso de tentar reconquistar ou seria melhor proteger-se e ajudar o sentimento a morrer?

Todas essas situações conduzem à mesma escolha: insistir ou desistir?

Quem acha que o amor é um campo de batalha geralmente opta pela insistência. Quem acha que ele é uma ocorrência espontânea tende a escolher a desistência (embora isso pareça feio). Na prática, como não temos 100% de certeza sobre as coisas, e como não nos controlamos 100%, oscilamos entre uma e outra posição, ao sabor das circunstâncias e do tamanho do envolvimento. Mas a maioria de nós, mesmo de forma inconsciente, traça um limite para o quanto se empenhar (ou rastejar) num caso desses. Quem não tem limites sofre além da conta – e frequentemente faz papel de bobo, com resultados pífios.

Uma das minhas teorias favoritas é que mesmo que a pessoa ceda a um assédio longo e custoso a relação estará envenenada. Pela simples razão de que ninguém é esnobado por muito tempo ou de forma muito ostensiva sem desenvolver ressentimentos. E ressentimentos não se dissipam. Eles ficam e cobram um preço. Cedo ou tarde a conta chega. E o tipo de personalidade que insiste demais numa conquista pode estar movida por motivos errados: o interesse é pela pessoa ou pela dificuldade? É um caso de amor ou de amor próprio?

Ser amado de graça, por outro lado, não tem preço. É a homenagem mais bacana que uma pessoa pode nos fazer. Você está ali, na vida (no trabalho, na balada, nas férias, no churrasco, na casa do amigo) e a pessoa simplesmente gosta de você. Ou você se aproxima com uma conversa fiada e ela recebe esse gesto de braços abertos. O que pode ser melhor do que isso? O que pode ser melhor do que ser gostado por aquilo que se é – sem truques, sem jogos de sedução, sem premeditações? Neste momento eu não consigo me lembrar de nada.

* IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Os teus pés



Ontem me lembrei dessa poesia que sempre gostei.



Os teus pés

Pablo Neruda

Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.

Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.

Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.

Tua cintura e teus seios,
a duplicada purpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouo levantaram voo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.

Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.

domingo, 22 de maio de 2011

Nada é tão ruim...


Que não possa piorar!

OBS: Só para reforçar minha idéia de que eu venho reclamando de barriga cheia.


Foto: Dina Goldstein.

Um novo desfecho para Lady of Shalott


Eu acho a história (ou estória, já que se trata de uma lenda) de Lady of Shalott muito triste. Então, resolvi dar um novo desfecho para ela. Ousada, eu, não? Pode até ser. Mas atualmente não me vejo morrendo em um barquinho qualquer só por ter acreditado que a vida é muito mais que reflexos no espelho.

O começo pode ser aproveitado. Então, vou logo à parte nova:

Assim que Lady of Shalott avista Sir Lancelot, ela monta uma estratégia. Nada de sair desembestada atrás dele, como se ele fosse a última bolacha do pacote. Mesmo porque, o tal lance da maldição é algo punk demais, e ela não iria se arriscar tanto por causa de um carinha, mesmo que ele seja alto, lindo, maravilhoso (e domador de cavalos selvagens, como Lancelot).
O mecanismo usado também não importa. O que vale é que ela estava tão segura de si que dificilmente seria atingida. E tem mais: na verdade, encontrar Lancelot era apenas um pretexto. No fundo ela já estava de saco cheio daquela porra de torre, e estava doidinha para dar um “rolé” e “cair na night” de Camelot.
Ela descobriu que a maldição consistia no que ela já vivia e, não, no que ainda pretendia viver. Por isso, ela virou-se para Lancelot e disse: E aí Lotinho (para os íntimos)! Pode ser ou ta difícil?
Ele ainda argumentou que seu coração já tinha dona... Mas ela insistiu: Qual é Lotinho! Guinevere é passado... Ela já está em outra faz tempo, e você ainda fica nessa?
Sendo assim, desceram juntos rumo ao castelo mais próximo, onde souberam que ia rolar uma balada “mara”! Divertiram-se a noite inteira (pensem numa putaria?).Quanto aos detalhes, nem se tivesse uma imaginação de Júlio Verne ela conseguiria acreditar!
Se Sir Lancelot havia esquecido Guinevere para sempre, ela nem sonhava saber. E nem precisava. Naquele momento, estava muito feliz e isso era o bastante.
Em todo caso, ela sabe que ainda tem a vida inteira pela frente... E se Lotinho for esparro, ela ainda conhecerá Sir Fulano, Sir Sicrano, Sir Beltrano... Afinal de contas, gata ela é.


*Imagem: The Lady of Shallot Looking at Lancelot by John William Waterhouse.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Noite sem cor.


Mais uma noite nostálgica. Ou, melhor dizendo, noite sem cor. Se bem que agora tenho até motivos. Ou melhor, um motivo.
Não vou entrar em detalhes, mas, aconteceu algo muito grave na vida de uma pessoa que, atualmente, posso chamar de amigo “preto e branco”.
Acho que são essas coisas muito graves que nos fazem ver o que as pessoas representam de fato em nossas vidas. Mais ainda: até onde elas nos motivam a executar certos movimentos que, até então, talvez nem soubéssemos que ainda seríamos capazes de fazer.
Eu liguei para uma velha amiga em comum, amiga mesmo, das horas difíceis e das farras da adolescência. Uma amiga que, talvez como ele, perdeu-se de mim no tempo, provavelmente por conta da nossa própria evolução.
E eu pretendo que a gente se encontre novamente, nós três. Mas gostaria muito que não fossemos, não nesse tal momento, quem somos hoje; desejo, do fundo do meu coração, que sejamos novamente, aqueles três jovens iniciantes da fase adulta, sem grandes preocupações, e com muitos planos pela frente.
Nosso amigo vai precisar disso.


*Imagem encontrada na Internet.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Por sua amizade!


Eu poderia citar Quintana, mas o seu clássico é manjado perto de nossa realidade. Amizade não se define, não se toca, não se mede. É como a distância que nos separa, mas que não é maior do que tudo que nos une. Ou melhor, tudo que nunca foi capaz de nos separar. Porque mesmo quando não quisemos, ela esteve sempre presente, dentro de nós (no bom sentido, olha a maldade...). Eu até tentei exorcizá-la (isso mesmo, a pontapés hehehe). Mas foi em vão. Ela apenas se escondeu, fingiu-se de morta para me enganar, como nas brincadeiras de criança. E, quando menos esperava,mostrou-se diferente... Cresceu. Isso mesmo, ela evoluiu, amadureceu, e se transformou em algo infinitamente maior do que um dia imaginamos, mesmo quando, lá atrás, acreditamos que ela tinha se retirado para ceder lugar a algo que pensávamos ser mais intenso. Que tolice! E como ela ficou bonita... O tempo é o cara... Disso eu tenho certeza. E a nossa amizade é uma fortaleza que conseguiu nos proteger até de nós mesmos.

sábado, 16 de abril de 2011

Desperdiçando o Amor

Engraçado, esses dias me lembrei dessa musica. Talvez por ter tido um estímulo não diretamente relacionado; um cd do Linkin Park, no carro de uma pessoa.
Aí fiquei pensando nessa letra, em como ela é contemporânea e cada vez mais realista.
Parece que desperdiçar o amor virou algo comum, como aqueles dois dedinhos da bebida que a gente deixa o garçom levar, por julgar que não iremos tomar. Afinal, é só um restinho.
Como estamos "desperdiçando o amor em uma carícia desesperada", como diria o velho Bruce. E como isso tem me entristecido.
O vídeo contém a tradução, para quem tiver interesse em refletir, enquanto se entrega à melodia.