quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O gosto pelo amargo


Ontem dei uma pausa. Na verdade não conseguia me concentrar e não entendia mais nada do que estava lendo. Sentei-me em um local arejado, respirei fundo e senti o vento. Pedi um café forte e coloquei apenas um pouquinho de açúcar para minimizar o amargor. Fui saboreando, sentindo a espessura da bebida, diferente da que fazemos em casa.
Fiquei imaginando que se eu não gostasse tanto do amargo, não apenas do café, talvez eu não estivesse apoiando a minha xícara em uma mesa branca de plástico, mas, em uma dessas ovais, grandes, típicas de importantes reuniões.
Lembrei-me da compoteira de cristal, cujos pedaços jamais seriam colados, que eu trazia às mãos, ainda pequeninas, assumindo meu crime, com a audácia que me é peculiar até hoje. Por que não deixei o tempo passar e, somente quando o erro fosse descoberto, apenas por sabermos que mentira tem pernas curtas, atribuí a culpa a empregada?
Pensei em quantas vezes, na adolescência, levantei a voz e o dedo indicador, a fim de sustentar a verdade, quando poderia ter me limitado a uma convincente desculpa, que disfarçaria perfeitamente o que, no fundo, todos tinham de saber. Não teria sido bem mais fácil dissimular?
Ao demonstrar-se admirado frente a maneira como eu defendia as minhas convicções, sinto que ele teve medo de que tudo não passasse de falso moralismo. E ainda que tivesse sido um elogio, mais uma vez pequei por não ter medo de me expor exatamente como sou. Se me mantivesse calada, quem sabe a noite tivesse sido ainda mais agradável, pois, cada sem número de palavras implicava um beijo a menos.
Voltei ao café. Acho que da próxima vez colocarei mais uma ou duas colheres de açúcar. Ou talvez deixe que o biscoito doce continue contrastando com o gosto pelo amargo.

5 comentários:

  1. Lindo post, reflexivo, sensato, ajuizado como espero que a minha doce amiga Biscuit sempre seja, rejeitando os caminhos fáceis e construindo uma felicidade sólida.

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  2. Felicidade...............

    Oh mestre, fazei que eu procure mais
    Consolar que ser consolado
    Compreender que ser compreendido
    Amar e ser amado
    Pois é dando que se recebe
    É perdoando que se é perdoado
    E é morrendo que se vive para a vida eterna.

    São Francisco de Assis

    Vale a pena refletir... Tudo tem seu tempo...
    Beijossss

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  3. É, as vezes tento seguir os ensinamentos dele. Mas é claro que não sou tão evoluida a ponto de conseguir por em prática sempre.
    Mas estou bem. Apenas fazendo uns ajustes.. Ou, pelo menos, tentando fazer. Rsrs
    Beijosss

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  4. É... Estou tentando me concentrar mais nos progressos que nas derrotas. A propósito, São Francisco era "o cara" mesmo! E eu adoro essa oração... Beijosssss

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