domingo, 20 de novembro de 2011

Ingratidão


Se existe uma coisa nessa vida que efetivamente me incomoda é a ingratidão. Ultimamente tenho visto muitas cenas que refletem exatamente isso. Não necessariamente ligadas a mim, mas que, nem por isso, tornam-me menos indignada.

Algumas frases para reflexão:

“Ingratidão é uma forma de fraqueza. Jamais conheci homem de valor que fosse ingrato.” Johann Goethe

“A ingratidão é filha da soberba.” Miguel Cervantes

“Solidão?
sim, com gelo e limão.
Ingratidão?
não, obrigado.”
Torquato Neto

*Foto encontrada na Internet.

O bode.


Certa vez dois amigos se encontraram. Um deles, bastante queixoso, relatou ao ouro todo sofrimento pelo qual estava passando, por conta da esposa, filhos e, principalmente, da convivência com a sogra, que passara a residir com eles.
Após ouvir atento, o amigo disse que havia uma solução. Sugeriu-lhe que levasse um bode para passar um período em casa, com a justificativa de que a sua família ingrata sofreria o suficiente para aprender a lhe dar o devido valor...
E assim foi feito. Pouco tempo depois lá estava o animal estranho dentro de casa, convivendo com os seus, para o desgosto geral.
Evidentemente, muitas brigas ocorreram. E brigas feias, não apenas as pequenas desavenças de antes.
Os amigos se reencontravam, e as queixas só aumentavam: o bode fede, e minha mulher e sogra já tropeçaram nele várias vezes. As crianças parecem se divertir puxando o seu rabo e, por vingança, tenho certeza, ele quebra os objetos. Nem eu agüento mais...
Calma, meu caro. Você vai ver que, com o tempo, tudo vai melhorar... Faz parte da solução de todos os seus problemas! Aguarde e confie!
Foi assim, por muitos meses até que, para alívio comum, seu amigo foi buscar o bode.
Algum período depois, houve novo encontro.
Como vão as coisas? Sua esposa, filhos e, sobretudo, sua sogra, ainda são motivo de chateação?
Ah... Que nada! Depois da saída do bode, tudo se transformou! Agora é uma maravilha!


Ouvi essa história quando era criança. Um professor me contou como se fosse uma piada.
Entretanto, é bom refletir sobre a mensagem que ela nos passa. Como as pessoas não costumam dar valor ao que tem, até que as coisas piorem significativamente e, com elas, venha também a sabedoria.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Diário de uma Paixão


Diário de uma Paixão não é um filme para ser assistido em um momento de descrença aguda da humanidade. Aliás, pensando melhor, talvez até sirva para abrandar os corações de quem parece ter perdido, mesmo que momentaneamente, a fé no amor.
Eu sei que mergulhar nesses romances me afasta do real, e me deixa ainda mais vulnerável a todo tipo de canalha, que vive de dar “pequenos golpes” nos corações de gente idealista como eu. Porém, não consigo não vibrar com essas histórias e, a cada cena, não perder a esperança de que em algum momento de minha vida sentirei algo semelhante também.

Sinopse:

Numa clínica geriátrica, Duke, um dos internos que relativamente está bem, lê para uma interna (com um quadro mais grave) a história de Allie Hamilton (Rachel McAdams) e Noah Calhoun (Ryan Gosling), dois jovens enamorados que em 1940 se conheceram num parque de diversões. Eles foram separados pelos pais dela, que nunca aprovaram o namoro, pois Noah era um trabalhador braçal e oriundo de uma família sem recursos financeiros. Para evitar qualquer aproximação, os pais de Alie a mandam para longe. Por um ano Noah escreveu para Allie todos os dias mas não obteve resposta, pois a mãe (Joan Allen) dela interceptava as cartas de Noah para a filha. Crendo que Allie não estava mais interessada nele, Noah escreveu uma carta de despedida e tentou se conformar. Alie esperava notícias de Noah, mas após 7 anos desistiu de esperar ao conhecer um charmoso oficial, Lon Hammond Jr. (James Marsden), que serviu na 2ª Grande Guerra (assim como Noah) e pertencia a uma família muito rica. Ele pede a mão de Allie, que aceita, mas o destino a faria se reencontrar com Noah. Como seu amor por ele ainda existia e era recíproco, ela precisa escolher entre o noivo e seu primeiro amor.

domingo, 18 de setembro de 2011

Conto.

Esse conto foi escrito por uma pessoa que, até então, desperta minha admiração.

Por Fabrício Dourado.

Ernesto era um rapaz tímido. Todos atribuíam essa sua principal característica ao fato dele sempre ter sido feio. Agora aos 26 anos de idade continuava com a aparência de anos atrás: muito magro, quase esquálido, media pouco mais de 1,60 de... altura, tinha os olhos estranhamente separados, que eram ainda mais destacados pelas grossas lentes do seu óculos e tinha grandes orelhas de abano que te davam a impressão de uma pessoa tola. Apesar de sempre andar bem vestido demonstrava uma certa falta de cuidado com a aparência, como se tivesse se rendido a sua natural feiúra.
Mas Ernesto não era tímido por isso. Filho único, nascera desacredito pelos médicos em virtude da avançada idade dos seus pais. Ainda com poucos anos de vida perderá o pai em função de uma grave pneumonia e fora criado pela sua mãe viúva, uma senhora extremamente controladora, ciumenta e possessiva. Criara o filho como um excesso de cuidados e zelo tão grande, ainda que censurada pelos que a cercavam, que o fez seu grande dependente e o tornou assim uma pessoa tímida. Não tolerava os desejos masculinos do filho e condenava com veemência todo tipo de libido natural a idade. “Isso é sujo”, berrava aos quatro cantos enquanto batia com força na porta do banheiro todas as vezes que ele demorava um pouco mais do que o normal.
E por conta disso Ernesto nunca tivera uma namorada. Na única vez que começou a se relacionar com uma mulher ainda na adolescência, uma colega de sala de aula, foi pego pela senhora sua mãe na rua, apenas aos beijos e fora repreendido de tal forma que correra para casa envergonhado pela situação e sob os gritos que o chamavam de libertino. No seu inconsciente culpava sua mãe pela vida ordinária que levava e desejava sua morte todos os dias quando chegava em casa do trabalho e tinha de lhe dar uma série de satisfações sobre como fora o seu dia.
Foram apenas dois dias entre o adoecimento de sua mãe e a constatação do seu falecimento. Ela fora acometida de uma forte gripe e como insistia em não ir a um hospital, teve na sua cama o leito de morte. Apenas alguns parentes mais distantes foram a cerimônia fúnebre. O enterro foi no final da tarde e Ernesto ainda que o último a sair não derramou nenhuma lágrima. Assim que chegou em casa trocou o velho paletó por uma roupa mais confortável e foi para um barzinho conhecido pela fama de ser um dos mais agitados da cidade. Tudo era novo e agora sentado em uma das cadeiras do balcão do bar se sentia um peixe fora da água e já se preparava para ir embora quando foi tocado por uma mão feminina: “Você já vai embora?”, “Sim...”, “Desculpe ser inconveniente, mas não poderia deixar você ir sem saber ao menos o seu nome.”, “Eu me chamo Ernesto.”, “Muito prazer Ernesto, meu nome é Bruna. Será que antes de ir embora poderia me pagar uma bebida e me fazer um pouco de companhia?”.
Era difícil acreditar que aquela mulher tivesse te abordado e agora estivesse em sua companhia. Ela era um espetáculo de mulher: loira de cabelos lisos e compridos ate a cintura, aproximadamente 1,70 de altura, magra de pele bem branquinha, tinha os olhos castanhos e vivos, uma boca que se destacava pelos lábios bem definidos e o sorriso perfeito e contagiante. Disse ter apenas 19 anos e realmente não aparentava ter mais do que isso, e que tinha se apaixonado pelo jeito tímido e reservado de Ernesto desde que o vira entrar sozinho naquele bar a poucos minutos atrás. Conversaram por algum tempo sobre futilidades ate que de Bruna partiu o convite de saírem daquele lugar e irem para um local mais reservado. Ela dividia apartamento com mais uma amiga, que estava viajando a trabalho, e não ficava muito distante dali.
Nunca sentira tanto desejo e prazer e se perdia nos beijos suaves e doces daquela linda mulher. Tudo nela era perfeito: a pele, o cheiro, o toque... E ao pé daquela cama estranha, enquanto de forma desengonçada tirava sua roupa, percebia pela primeira vez na vida toda a beleza dos contornos e formas de um corpo feminino. Sua mãe agora era apenas uma vaga lembrança e se deixava conduzir pelas mãos habilidosas de Bruna que apertavam o seu corpo nu, enquanto lhe mordia as orelhas e sussurrava palavras de desejo. Urrava de prazer enquanto sentia o sabor do sexo e com o coração disparado e pernas trêmulas disse “Eu te amo!”, explodindo em gozo e sensações que nem H. Miller conseguiria descrever no seu melhor livro.
Sentou-se a beira da cama depois de pegar um cigarro na cômoda para Bruna e tinha seus pensamentos longe dali quando teve o silêncio interrompido. “Foi a sua primeira vez?”, “Sim.”, “Difícil acreditar que ainda existam homens como você. Se eu não tivesse presenciado iria achar que era uma fantasia. Mas me diz, você gostou?”, “Sim, muito.”, “Então você bem que poderia me dar um presentinho maior pela satisfação garantida.”, “Do que você esta falando?”, “Sobre dinheiro é claro. Eu normalmente cobro R$300,00, mas no seu caso...”, “Espere! Você é uma prostituta?”, “Você achou o que? Que eu te trouxe aqui de graça? Em que mundo você vive?”. Tomado por uma fúria repentina saltou sobre Bruna e a pegou pelo pescoço com os dois braços, imobilizando-a com o seu corpo. Naquele momento assumiu uma forma brutal e que em nada lembrava aquele homem fraco e gentil. Ela tentava se desvencilhar em vão e aos poucos suas energias iam se esvaindo. Ernesto ainda apertando o seu pescoço voltava ao seu tom normal enquanto a via desfalecer com um ultimo suspiro. Não a matara por vergonha de ter sido enganado e sim por não aceitar dividir aquela mulher nunca mais com outro homem. “Eu te amo!”.

domingo, 28 de agosto de 2011

Os Homens que não Amavam as Mulheres.


Acabei de assistir ao filme sueco "Os Homens que não Amavam as Mulheres".
Baseado em um livro, ele faz parte da Trilogia Millennium, assim como os outros dois que o sucederam: A Menina que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar.
De gênero suspense/investigativo, consegue prender a atenção, apesar das cenas pesadas, porém, não apelativas.
As interpretações são convincentes, e o final é bastante interessante.
Recomendo!

Sinopse:

Harriet Vanger desapareceu 36 anos atrás sem deixar pistas na ilha de Hedeby, um local que é quase propriedade exclusiva da poderosa família Vanger. Apesar da longa investigação policial a jovem de 16 anos nunca foi encontrada. Mesmo depois de tanto tempo seu tio decide continuar as buscas, contratando o jornalista investigativo da revista Millennium, Mikael Blomkvist, que não está em um bom momento de sua vida, enfrenta um processo por calúnia e difamação. Mas, quando o jornalista se junta a Lisbeth Salander, uma investigadora particular nada usual, incontrolável e anti social, a investigação avança muito além do que todos poderiam imaginar.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O amor bom é facinho


Achei esse texto sensacional. Ele desmistifica o que, espero um dia, consiga ser realmente entendido pela maioria das pessoas.

Por que as pessoas valorizam o esforço e a sedução?

Por Ivan Martins


Há conversas que nunca terminam e dúvidas que jamais desaparecem. Sobre a melhor maneira de iniciar uma relação, por exemplo. Muita gente acredita que aquilo que se ganha com facilidade se perde do mesmo jeito. Acham que as relações que exigem esforço têm mais valor. Mulheres difíceis de conquistar, homens difíceis de manter, namoros que dão trabalho - esses tendem a ser mais importantes e duradouros. Mas será verdade?

Eu suspeito que não.

Acho que somos ensinados a subestimar quem gosta de nós. Se a garota na mesa ao lado sorri em nossa direção, começamos a reparar nos seus defeitos. Se a pessoa fosse realmente bacana não me daria bola assim de graça. Se ela não resiste aos meus escassos encantos é uma mulher fácil – e mulheres fáceis não valem nada, certo? O nome disso, damas e cavalheiros, é baixa auto-estima: não entro em clube que me queira como sócio. É engraçado, mas dói.

Também somos educados para o sacrifício. Aquilo que ganhamos sem suor não tem valor. Somos uma sociedade de lutadores, não somos? Temos de nos esforçar para obter recompensas. As coisas que realmente valem a pena são obtidas à duras penas. E por aí vai. De tanto ouvir essa conversa - na escola, no esporte, no escritório - levamos seus pressupostos para a vida afetiva. Acabamos acreditando que também no terreno do afeto deveríamos ser capazes de lutar, sofrer e triunfar. Precisamos de conquistas épicas para contar no jantar de domingo. Se for fácil demais, não vale. Amor assim não tem graça, diz um amigo meu. Será mesmo?

Minha experiência sugere o contrário.

Desde a adolescência, e no transcorrer da vida adulta, todas as mulheres importantes me caíram do céu. A moça que vomitou no meu pé na festa do centro acadêmico e me levou para dormir na sala da casa dela. Casamos. A garota de olhos tristes que eu conheci na porta do cinema e meia hora depois tomava o meu sorvete. Quase casamos? A mulher cujo nome eu perguntei na lanchonete do trabalho e 24 horas depois me chamou para uma festa. A menina do interior que resolveu dançar comigo num impulso. Nenhuma delas foi seduzida, conquistada ou convencida a gostar de mim. Elas tomaram a iniciativa – ou retribuíram sem hesitar a atenção que eu dei a elas.

Toda vez que eu insisti com quem não estava interessada deu errado. Toda vez que tentei escalar o muro da indiferença foi inútil. Ou descobri que do outro lado não havia nada. Na minha experiência, amor é um território em que coragem e a iniciativa são premiadas, mas empenho, persistência e determinação nunca trouxeram resultado.

Relato essa experiência para discutir uma questão que me parece da maior gravidade: o quanto deveríamos insistir em obter a atenção de uma pessoa que não parece retribuir os nossos sentimos?

Quem está emocionalmente disponível lida com esse tipo de dilema o tempo todo. Você conhece a figura, acha bacana, liga uns dias depois e ela não atende e nem liga de volta. O que fazer? Você sai com a pessoa, acha ela o máximo, tenta um segundo encontro e ela reluta em marcar a data. Como proceder a partir daí? Você começou uma relação, está se apaixonando, mas a outra parte, um belo dia, deixa de retornar seus telefonemas. O que se faz? Você está apaixonado ou apaixonada, levou um pé na bunda e mal consegue respirar. É o caso de tentar reconquistar ou seria melhor proteger-se e ajudar o sentimento a morrer?

Todas essas situações conduzem à mesma escolha: insistir ou desistir?

Quem acha que o amor é um campo de batalha geralmente opta pela insistência. Quem acha que ele é uma ocorrência espontânea tende a escolher a desistência (embora isso pareça feio). Na prática, como não temos 100% de certeza sobre as coisas, e como não nos controlamos 100%, oscilamos entre uma e outra posição, ao sabor das circunstâncias e do tamanho do envolvimento. Mas a maioria de nós, mesmo de forma inconsciente, traça um limite para o quanto se empenhar (ou rastejar) num caso desses. Quem não tem limites sofre além da conta – e frequentemente faz papel de bobo, com resultados pífios.

Uma das minhas teorias favoritas é que mesmo que a pessoa ceda a um assédio longo e custoso a relação estará envenenada. Pela simples razão de que ninguém é esnobado por muito tempo ou de forma muito ostensiva sem desenvolver ressentimentos. E ressentimentos não se dissipam. Eles ficam e cobram um preço. Cedo ou tarde a conta chega. E o tipo de personalidade que insiste demais numa conquista pode estar movida por motivos errados: o interesse é pela pessoa ou pela dificuldade? É um caso de amor ou de amor próprio?

Ser amado de graça, por outro lado, não tem preço. É a homenagem mais bacana que uma pessoa pode nos fazer. Você está ali, na vida (no trabalho, na balada, nas férias, no churrasco, na casa do amigo) e a pessoa simplesmente gosta de você. Ou você se aproxima com uma conversa fiada e ela recebe esse gesto de braços abertos. O que pode ser melhor do que isso? O que pode ser melhor do que ser gostado por aquilo que se é – sem truques, sem jogos de sedução, sem premeditações? Neste momento eu não consigo me lembrar de nada.

* IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA