Esse conto foi escrito por uma pessoa que, até então, desperta minha admiração.
Por Fabrício Dourado.
Ernesto era um rapaz tímido. Todos atribuíam essa sua principal característica ao fato dele sempre ter sido feio. Agora aos 26 anos de idade continuava com a aparência de anos atrás: muito magro, quase esquálido, media pouco mais de 1,60 de... altura, tinha os olhos estranhamente separados, que eram ainda mais destacados pelas grossas lentes do seu óculos e tinha grandes orelhas de abano que te davam a impressão de uma pessoa tola. Apesar de sempre andar bem vestido demonstrava uma certa falta de cuidado com a aparência, como se tivesse se rendido a sua natural feiúra.
Mas Ernesto não era tímido por isso. Filho único, nascera desacredito pelos médicos em virtude da avançada idade dos seus pais. Ainda com poucos anos de vida perderá o pai em função de uma grave pneumonia e fora criado pela sua mãe viúva, uma senhora extremamente controladora, ciumenta e possessiva. Criara o filho como um excesso de cuidados e zelo tão grande, ainda que censurada pelos que a cercavam, que o fez seu grande dependente e o tornou assim uma pessoa tímida. Não tolerava os desejos masculinos do filho e condenava com veemência todo tipo de libido natural a idade. “Isso é sujo”, berrava aos quatro cantos enquanto batia com força na porta do banheiro todas as vezes que ele demorava um pouco mais do que o normal.
E por conta disso Ernesto nunca tivera uma namorada. Na única vez que começou a se relacionar com uma mulher ainda na adolescência, uma colega de sala de aula, foi pego pela senhora sua mãe na rua, apenas aos beijos e fora repreendido de tal forma que correra para casa envergonhado pela situação e sob os gritos que o chamavam de libertino. No seu inconsciente culpava sua mãe pela vida ordinária que levava e desejava sua morte todos os dias quando chegava em casa do trabalho e tinha de lhe dar uma série de satisfações sobre como fora o seu dia.
Foram apenas dois dias entre o adoecimento de sua mãe e a constatação do seu falecimento. Ela fora acometida de uma forte gripe e como insistia em não ir a um hospital, teve na sua cama o leito de morte. Apenas alguns parentes mais distantes foram a cerimônia fúnebre. O enterro foi no final da tarde e Ernesto ainda que o último a sair não derramou nenhuma lágrima. Assim que chegou em casa trocou o velho paletó por uma roupa mais confortável e foi para um barzinho conhecido pela fama de ser um dos mais agitados da cidade. Tudo era novo e agora sentado em uma das cadeiras do balcão do bar se sentia um peixe fora da água e já se preparava para ir embora quando foi tocado por uma mão feminina: “Você já vai embora?”, “Sim...”, “Desculpe ser inconveniente, mas não poderia deixar você ir sem saber ao menos o seu nome.”, “Eu me chamo Ernesto.”, “Muito prazer Ernesto, meu nome é Bruna. Será que antes de ir embora poderia me pagar uma bebida e me fazer um pouco de companhia?”.
Era difícil acreditar que aquela mulher tivesse te abordado e agora estivesse em sua companhia. Ela era um espetáculo de mulher: loira de cabelos lisos e compridos ate a cintura, aproximadamente 1,70 de altura, magra de pele bem branquinha, tinha os olhos castanhos e vivos, uma boca que se destacava pelos lábios bem definidos e o sorriso perfeito e contagiante. Disse ter apenas 19 anos e realmente não aparentava ter mais do que isso, e que tinha se apaixonado pelo jeito tímido e reservado de Ernesto desde que o vira entrar sozinho naquele bar a poucos minutos atrás. Conversaram por algum tempo sobre futilidades ate que de Bruna partiu o convite de saírem daquele lugar e irem para um local mais reservado. Ela dividia apartamento com mais uma amiga, que estava viajando a trabalho, e não ficava muito distante dali.
Nunca sentira tanto desejo e prazer e se perdia nos beijos suaves e doces daquela linda mulher. Tudo nela era perfeito: a pele, o cheiro, o toque... E ao pé daquela cama estranha, enquanto de forma desengonçada tirava sua roupa, percebia pela primeira vez na vida toda a beleza dos contornos e formas de um corpo feminino. Sua mãe agora era apenas uma vaga lembrança e se deixava conduzir pelas mãos habilidosas de Bruna que apertavam o seu corpo nu, enquanto lhe mordia as orelhas e sussurrava palavras de desejo. Urrava de prazer enquanto sentia o sabor do sexo e com o coração disparado e pernas trêmulas disse “Eu te amo!”, explodindo em gozo e sensações que nem H. Miller conseguiria descrever no seu melhor livro.
Sentou-se a beira da cama depois de pegar um cigarro na cômoda para Bruna e tinha seus pensamentos longe dali quando teve o silêncio interrompido. “Foi a sua primeira vez?”, “Sim.”, “Difícil acreditar que ainda existam homens como você. Se eu não tivesse presenciado iria achar que era uma fantasia. Mas me diz, você gostou?”, “Sim, muito.”, “Então você bem que poderia me dar um presentinho maior pela satisfação garantida.”, “Do que você esta falando?”, “Sobre dinheiro é claro. Eu normalmente cobro R$300,00, mas no seu caso...”, “Espere! Você é uma prostituta?”, “Você achou o que? Que eu te trouxe aqui de graça? Em que mundo você vive?”. Tomado por uma fúria repentina saltou sobre Bruna e a pegou pelo pescoço com os dois braços, imobilizando-a com o seu corpo. Naquele momento assumiu uma forma brutal e que em nada lembrava aquele homem fraco e gentil. Ela tentava se desvencilhar em vão e aos poucos suas energias iam se esvaindo. Ernesto ainda apertando o seu pescoço voltava ao seu tom normal enquanto a via desfalecer com um ultimo suspiro. Não a matara por vergonha de ter sido enganado e sim por não aceitar dividir aquela mulher nunca mais com outro homem. “Eu te amo!”.
domingo, 18 de setembro de 2011
domingo, 28 de agosto de 2011
Os Homens que não Amavam as Mulheres.

Acabei de assistir ao filme sueco "Os Homens que não Amavam as Mulheres".
Baseado em um livro, ele faz parte da Trilogia Millennium, assim como os outros dois que o sucederam: A Menina que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar.
De gênero suspense/investigativo, consegue prender a atenção, apesar das cenas pesadas, porém, não apelativas.
As interpretações são convincentes, e o final é bastante interessante.
Recomendo!
Sinopse:
Harriet Vanger desapareceu 36 anos atrás sem deixar pistas na ilha de Hedeby, um local que é quase propriedade exclusiva da poderosa família Vanger. Apesar da longa investigação policial a jovem de 16 anos nunca foi encontrada. Mesmo depois de tanto tempo seu tio decide continuar as buscas, contratando o jornalista investigativo da revista Millennium, Mikael Blomkvist, que não está em um bom momento de sua vida, enfrenta um processo por calúnia e difamação. Mas, quando o jornalista se junta a Lisbeth Salander, uma investigadora particular nada usual, incontrolável e anti social, a investigação avança muito além do que todos poderiam imaginar.
sexta-feira, 1 de julho de 2011
O amor bom é facinho

Achei esse texto sensacional. Ele desmistifica o que, espero um dia, consiga ser realmente entendido pela maioria das pessoas.
Por que as pessoas valorizam o esforço e a sedução?
Por Ivan Martins
Há conversas que nunca terminam e dúvidas que jamais desaparecem. Sobre a melhor maneira de iniciar uma relação, por exemplo. Muita gente acredita que aquilo que se ganha com facilidade se perde do mesmo jeito. Acham que as relações que exigem esforço têm mais valor. Mulheres difíceis de conquistar, homens difíceis de manter, namoros que dão trabalho - esses tendem a ser mais importantes e duradouros. Mas será verdade?
Eu suspeito que não.
Acho que somos ensinados a subestimar quem gosta de nós. Se a garota na mesa ao lado sorri em nossa direção, começamos a reparar nos seus defeitos. Se a pessoa fosse realmente bacana não me daria bola assim de graça. Se ela não resiste aos meus escassos encantos é uma mulher fácil – e mulheres fáceis não valem nada, certo? O nome disso, damas e cavalheiros, é baixa auto-estima: não entro em clube que me queira como sócio. É engraçado, mas dói.
Também somos educados para o sacrifício. Aquilo que ganhamos sem suor não tem valor. Somos uma sociedade de lutadores, não somos? Temos de nos esforçar para obter recompensas. As coisas que realmente valem a pena são obtidas à duras penas. E por aí vai. De tanto ouvir essa conversa - na escola, no esporte, no escritório - levamos seus pressupostos para a vida afetiva. Acabamos acreditando que também no terreno do afeto deveríamos ser capazes de lutar, sofrer e triunfar. Precisamos de conquistas épicas para contar no jantar de domingo. Se for fácil demais, não vale. Amor assim não tem graça, diz um amigo meu. Será mesmo?
Minha experiência sugere o contrário.
Desde a adolescência, e no transcorrer da vida adulta, todas as mulheres importantes me caíram do céu. A moça que vomitou no meu pé na festa do centro acadêmico e me levou para dormir na sala da casa dela. Casamos. A garota de olhos tristes que eu conheci na porta do cinema e meia hora depois tomava o meu sorvete. Quase casamos? A mulher cujo nome eu perguntei na lanchonete do trabalho e 24 horas depois me chamou para uma festa. A menina do interior que resolveu dançar comigo num impulso. Nenhuma delas foi seduzida, conquistada ou convencida a gostar de mim. Elas tomaram a iniciativa – ou retribuíram sem hesitar a atenção que eu dei a elas.
Toda vez que eu insisti com quem não estava interessada deu errado. Toda vez que tentei escalar o muro da indiferença foi inútil. Ou descobri que do outro lado não havia nada. Na minha experiência, amor é um território em que coragem e a iniciativa são premiadas, mas empenho, persistência e determinação nunca trouxeram resultado.
Relato essa experiência para discutir uma questão que me parece da maior gravidade: o quanto deveríamos insistir em obter a atenção de uma pessoa que não parece retribuir os nossos sentimos?
Quem está emocionalmente disponível lida com esse tipo de dilema o tempo todo. Você conhece a figura, acha bacana, liga uns dias depois e ela não atende e nem liga de volta. O que fazer? Você sai com a pessoa, acha ela o máximo, tenta um segundo encontro e ela reluta em marcar a data. Como proceder a partir daí? Você começou uma relação, está se apaixonando, mas a outra parte, um belo dia, deixa de retornar seus telefonemas. O que se faz? Você está apaixonado ou apaixonada, levou um pé na bunda e mal consegue respirar. É o caso de tentar reconquistar ou seria melhor proteger-se e ajudar o sentimento a morrer?
Todas essas situações conduzem à mesma escolha: insistir ou desistir?
Quem acha que o amor é um campo de batalha geralmente opta pela insistência. Quem acha que ele é uma ocorrência espontânea tende a escolher a desistência (embora isso pareça feio). Na prática, como não temos 100% de certeza sobre as coisas, e como não nos controlamos 100%, oscilamos entre uma e outra posição, ao sabor das circunstâncias e do tamanho do envolvimento. Mas a maioria de nós, mesmo de forma inconsciente, traça um limite para o quanto se empenhar (ou rastejar) num caso desses. Quem não tem limites sofre além da conta – e frequentemente faz papel de bobo, com resultados pífios.
Uma das minhas teorias favoritas é que mesmo que a pessoa ceda a um assédio longo e custoso a relação estará envenenada. Pela simples razão de que ninguém é esnobado por muito tempo ou de forma muito ostensiva sem desenvolver ressentimentos. E ressentimentos não se dissipam. Eles ficam e cobram um preço. Cedo ou tarde a conta chega. E o tipo de personalidade que insiste demais numa conquista pode estar movida por motivos errados: o interesse é pela pessoa ou pela dificuldade? É um caso de amor ou de amor próprio?
Ser amado de graça, por outro lado, não tem preço. É a homenagem mais bacana que uma pessoa pode nos fazer. Você está ali, na vida (no trabalho, na balada, nas férias, no churrasco, na casa do amigo) e a pessoa simplesmente gosta de você. Ou você se aproxima com uma conversa fiada e ela recebe esse gesto de braços abertos. O que pode ser melhor do que isso? O que pode ser melhor do que ser gostado por aquilo que se é – sem truques, sem jogos de sedução, sem premeditações? Neste momento eu não consigo me lembrar de nada.
* IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Os teus pés

Ontem me lembrei dessa poesia que sempre gostei.
Os teus pés
Pablo Neruda
Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.
Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.
Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.
Tua cintura e teus seios,
a duplicada purpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouo levantaram voo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.
Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.
domingo, 22 de maio de 2011
Nada é tão ruim...

Que não possa piorar!
OBS: Só para reforçar minha idéia de que eu venho reclamando de barriga cheia.
Foto: Dina Goldstein.
Marcadores:
Coisas minhas.,
Para refletir.,
Presepadas.
Um novo desfecho para Lady of Shalott

Eu acho a história (ou estória, já que se trata de uma lenda) de Lady of Shalott muito triste. Então, resolvi dar um novo desfecho para ela. Ousada, eu, não? Pode até ser. Mas atualmente não me vejo morrendo em um barquinho qualquer só por ter acreditado que a vida é muito mais que reflexos no espelho.
O começo pode ser aproveitado. Então, vou logo à parte nova:
Assim que Lady of Shalott avista Sir Lancelot, ela monta uma estratégia. Nada de sair desembestada atrás dele, como se ele fosse a última bolacha do pacote. Mesmo porque, o tal lance da maldição é algo punk demais, e ela não iria se arriscar tanto por causa de um carinha, mesmo que ele seja alto, lindo, maravilhoso (e domador de cavalos selvagens, como Lancelot).
O mecanismo usado também não importa. O que vale é que ela estava tão segura de si que dificilmente seria atingida. E tem mais: na verdade, encontrar Lancelot era apenas um pretexto. No fundo ela já estava de saco cheio daquela porra de torre, e estava doidinha para dar um “rolé” e “cair na night” de Camelot.
Ela descobriu que a maldição consistia no que ela já vivia e, não, no que ainda pretendia viver. Por isso, ela virou-se para Lancelot e disse: E aí Lotinho (para os íntimos)! Pode ser ou ta difícil?
Ele ainda argumentou que seu coração já tinha dona... Mas ela insistiu: Qual é Lotinho! Guinevere é passado... Ela já está em outra faz tempo, e você ainda fica nessa?
Sendo assim, desceram juntos rumo ao castelo mais próximo, onde souberam que ia rolar uma balada “mara”! Divertiram-se a noite inteira (pensem numa putaria?).Quanto aos detalhes, nem se tivesse uma imaginação de Júlio Verne ela conseguiria acreditar!
Se Sir Lancelot havia esquecido Guinevere para sempre, ela nem sonhava saber. E nem precisava. Naquele momento, estava muito feliz e isso era o bastante.
Em todo caso, ela sabe que ainda tem a vida inteira pela frente... E se Lotinho for esparro, ela ainda conhecerá Sir Fulano, Sir Sicrano, Sir Beltrano... Afinal de contas, gata ela é.
*Imagem: The Lady of Shallot Looking at Lancelot by John William Waterhouse.
Marcadores:
Coisas minhas.,
Para refletir.,
Presepadas.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Noite sem cor.

Mais uma noite nostálgica. Ou, melhor dizendo, noite sem cor. Se bem que agora tenho até motivos. Ou melhor, um motivo.
Não vou entrar em detalhes, mas, aconteceu algo muito grave na vida de uma pessoa que, atualmente, posso chamar de amigo “preto e branco”.
Acho que são essas coisas muito graves que nos fazem ver o que as pessoas representam de fato em nossas vidas. Mais ainda: até onde elas nos motivam a executar certos movimentos que, até então, talvez nem soubéssemos que ainda seríamos capazes de fazer.
Eu liguei para uma velha amiga em comum, amiga mesmo, das horas difíceis e das farras da adolescência. Uma amiga que, talvez como ele, perdeu-se de mim no tempo, provavelmente por conta da nossa própria evolução.
E eu pretendo que a gente se encontre novamente, nós três. Mas gostaria muito que não fossemos, não nesse tal momento, quem somos hoje; desejo, do fundo do meu coração, que sejamos novamente, aqueles três jovens iniciantes da fase adulta, sem grandes preocupações, e com muitos planos pela frente.
Nosso amigo vai precisar disso.
*Imagem encontrada na Internet.
Assinar:
Postagens (Atom)