terça-feira, 15 de junho de 2010

Para quem é gato...


Ode ao Gato

Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça vôo.
O gato,
só o gato apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.

Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa
só como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogar as moedas da noite .

Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.

Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gato, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos do seu gato.

Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica
o gineceu com os seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos têm números de ouro.


Pablo Neruda

domingo, 13 de junho de 2010

Mapa Astral



Quando era adolescente tive um colega, aliás, bem mais que isso, foi um grande amigo que marcou muito determinada fase de minha vida, que era conhecedor de Astrologia. Ele nunca cumpriu sua promessa de fazer meu mapa astral, ou, então, o fez e guardou para si, talvez numa tentativa de ter para sempre com ele todos os meus segredos...
Porém, como hoje em dia a Internet tornou-se mais comum que nossas trocas de olhares durante as aulas, entrei em um desses sites, despretensiosamente, diga-se de passagem, lancei meus dados e puff! Em poucos segundos, eu me vi ali, retratada como que por quem me conhecesse há anos.
Não sei se essas informações tem credibilidade, mas as achei interssantes.


Posição dos planetas:
Sol em Capricórnio
Lua em Leão
Mercúrio em Sagitário
Vênus em Sagitário
Marte em Capricórnio
Júpiter em Libra
Saturno em Libra
Urano em Escorpião
Netuno em Sagitário
Plutão em Libra

Posição das casas:
Ascendente em Leão
Casa 2 Virgem
Casa 3 Libra
Casa 4 Escorpião
Casa 5 Sagitário
Casa 6 Capricórnio
Casa 7 Aquário
Casa 8 Peixes
Casa 9 Áries
Casa 10 Touro
Casa 11 Gêmeos
Casa 12 Câncer




Seu signo é: Capricórnio ... O EU Interior

O signo de Capricórnio, é o décimo signo do Zodíaco e inicia em 22 de Dezembro e termina em 20 de Janeiro. É um signo Cardeal, de Terra, e é governado pelo planeta Saturno. Sendo um signo tortuoso e violento, esconde dentro de si as emoções que ele não consegue exteriorizar e que tanto o atormentam.
Os natos deste signo são pessoas aparentemente calmas e controladas, raramente se abalando com os acontecimentos. São porém bastante negativos, se fechando num mundo próprio e se tornando inacessíveis como as altas montanhas que tanto os atraem. Os lugares elevados e isolados são seus prediletos, já que são governados pelo planeta Saturno. Têm uma tenacidade incrível para superar obstáculos e lutam para alcançar o que desejam. Têm muitas vezes uma infância difícil e não raro, cheia de responsabilidades.
Sendo pessoas determinadas e ambiciosas, vão lutar para alcançar a sua meta, custe o que custar, e gostam de alcançar postos elevados, como políticos, ministros, diplomatas. Não se contentam com pouco e acumulam sua fortuna pacientemente, como formigas trabalhadeiras. Se de um lado isto os ajuda a "subir na vida", por outro lado, o excessivo senso de responsabilidade e o senso do dever, lhes dá o "complexo de ATLAS" isto é, gostam de carregar o mundo em suas costas! Mas como se queixam! Podem se tornar egoístas, pessimistas, um pouco tacanhos (Tio Patinhas)! E muitas vezes aparentam ser frios e reservados, dando muita importância a seus princípios tradicionais rígidos e inflexíveis! Aprendam a relaxar um pouco! O mundo não é tão pesado! O Planeta Saturno é o planeta mais rígido do sistema Solar, pesado, inflexível e cobrador! Não deixem que a rigidez excessiva os impeça de gozar os prazeres da vida!
Entre as suas qualidades, encontramos a seriedade, a confiabilidade e a sobriedade. Não raramente tem senso de humor, um tanto sarcástico porém. Ele deve aprender a procurar a criança dentro de si, coisa que muitas vezes acontece, pasmem, com a maturidade!

Os joelhos, que são o seu ponto fraco no organismo, servem também como símbolo da humildade, como acontece na genuflexão: o Capricorniano raramente se dobra, se ajoelha!

Capricórnio e o Amor:

Apreciando a constância e a lealdade, os capricornianos são ótimos amigos, mas expressam dificilmente suas emoções, parecendo sempre distantes e frios. Ele "deseja ardentemente se apaixonar", mas isto não está em seus planos mais íntimos e nem em sua natureza, mais fria e calculadora. Pela sua excessiva praticidade pode deixar o companheiro constantemente frustrado, já que não é dado a grandes efusões e é capaz de estragar os momentos mais sentimentais, tirando o ânimo e estragando a brincadeira. Sendo um bom organizador, vai preparar todos os momentos com grande antecedência, mas deve se preocupar em olhar mais as necessidades do parceiro(a), para não se sentir frustrado com a rejeição depois. Para este signo de tradição, família e propriedade, não tem lugar para a improvisação e nem para as aventuras.

Capricórnio e a Casa:


Como é a casa de um capricorniano? Seguramente uma casa organizada, onde tudo está em seu lugar, mas onde, sobretudo, se reflita a sua condição social. Tudo dentro das mais estritas regras da tradição! Tudo tem seu lugar, e não há excessos, e deve haver um escritório onde poderá com calma continuar a trabalhar, já que a sua carreira está sempre em primeiro lugar. O ambiente pode até parecer despojado, mas ele vai preferir móveis de estilo, tradicionais ou ingleses, e tecidos clássicos. E o seu quarto, como será? Na luz e na calma que são seus luxos, o quarto do Capricorniano se lê como uma planta de arquitetura. Rigoroso e despojado, se concentra no essencial, procurando sempre mais o vazio e o abstrato; mesmo se os supérfluos da decoração, lhe parecem como concessões fastidiosas, o fogo de uma lareira, os livros favoritos e a sombra verde de uma planta, lhe proporcionam os sentimentos de uma presença que, neste lugar íntimo, às vezes lhe faz falta. As linhas são geométricas, essenciais, as cores sóbrias como o preto, cinza, índigo e as cores de terra. Concessão às tradições são os tapetes Persas e os objetos de valor, mas somente os essenciais!
Se V. acha que seu Signo está errado, CLIQUE AQUI e saiba mais!?


Ascendente em Leão

O Ascendente tem relação com sua aparência física e com o jeito que você se apresenta aos outros. Você que tem o Ascendente em Leão, certamente não gosta de passar despercebido. Sua altivez e sua forma de se mostrar para o mundo beiram a arrogância e pode ser muito mal interpretada, especialmente se abusar de seu poder. Geralmente as pessoas que possuem este signo desejam para si o melhor do mundo e fazem de tudo para consegui-lo. Adoram chamar a atenção, se colocar em destaque, são generosos e autoconfiantes. Quando Leão é seu ascendente a pessoa é um ator e adora um palco, um aplauso. Muito ambicioso, você precisa desenvolver a autoconfiança em você mesmo para alcançar as metas e objetivos traçados; mas não culpe o mundo se você não conseguir o que pretende. Seu porte físico atrai o olhar mesmo se não é conferido pela beleza física, mas é fruto da sua vaidade. Esta vaidade pode levá-lo a se enfeitar muito, mesmo se for homem: não faltarão correntes de ouro, relógios vistosos, roupas de grife, todos símbolos de sua opulência e realeza. Fisicamente você é forte, com os membros curtos e musculosos, demonstrando vigor físico e firmeza. Seu olhar é direto e um pouco arrogante e você se mostra altivo e dominador. Normalmente possui uma bela e sonora voz, um verdadeiro rugido capaz de se fazer ouvir ao longe! Seu temperamento é bilioso (natural do signo de Fogo) e predispõe você às doenças do sangue e do coração. Você pode também sofrer da coluna vertebral. A atividade física é indispensável à sua saúde.
(Lembre-se que um planeta colocado em conjunção com o Ascendente e também seu Signo, irão influenciar nesta descrição, modificando suas características).



Lua em Leão As Suas relacões emocionais.

Você tem a necessidade de se comportar como um líder, especialmente para receber os elogios e a aprovação daqueles que o rodeiam. Se você tem esta Lua você possui muita confiança em si próprio, tem honradez, senso de justiça e magnanimidade. Sua vaidade e seu temperamento artístico e dramático, podem levá-lo a escolher carreiras onde estará em destaque, exposto ao aplauso do público. Se você for mulher, esta Lua indica que você tem uma mãe/rainha e não uma mãe/colo. A beleza e a vaidade podem ser fatores predominantes em você já que precisará estar sempre no centro das atenções para apaziguar seu ego. Esta Lua mostra fragilidade no seu Ego, na sua auto-imagem, e indica que na infância você pode ter sido excessivamente mimado, sendo o centro das atenções de seus pais. Assim, na fase adulta, você chama atenção sobre si mesmo de qualquer maneira. Se sua Lua estiver ‘aflita’, você se torna dramática e instável sentimentalmente. Precisará desenvolver a relação com os outros com mais generosidade deixando de se concentrar somente em si próprio(a).

* A imagem acima repesenta, de fato, meu mapa.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Quem não tem cão...

Se dizem por aí que, que não tem cão, caça com gato, vai, então, um pequeno improviso.
Faz tempo que estava querendo colocar uma playlist aqui no espaço cor-de-rosa, porém, como sou uma analfabeta (funcional, ok?) em se tratando de tecnologia, não consegui fazer exatamente o que desejava... Porém, deu, pelo menos, para colocar umas musiquinhas “avulsas” como se fossem uma postagem.
É, acho que vai dar para quebrar o galho, mas aviso que não desisti de meu intuito. E se alguém se habilitar a me auxiliar nessa empreitada, eu agradeço!!!

OBS: Por favor, tenham consideração por mim e ouçam tudinho, pois deu o maior trabalho para colocar!!!








quarta-feira, 9 de junho de 2010

Quanto custa uma tatoo?


Pensei em fazer uma tatoo. Não sei o porquê e, até por isso, pretendo amadurecer a idéia com calma, pois não sei se ela é reflexo de uma fuga de mim mesma, ou, se um encontro com meu verdadeiro eu que até então estava escondido... Ok, ok, eu não fumei nada...
Ontem ouvi certas coisas, em uma conversa digna dos diálogos entre Mestre Miyagi e Daniel San. Fui indagada se conheço quanto eu valho. E nem era em termos intelectuais ou espirituais e, sim, em valor monetário mesmo. Daí eu comecei a pensar que nunca havia me dado ao trabalho de tentar achar essa resposta específica. E no início, não tinha me dado conta de que, o que ele realmente queria me proporcionar com essa pergunta, era que eu engatinhasse para uma evolução mais consciente.
Fiquei com isso na cabeça. Ele não me disse, mas eu cheguei à conclusão de que conhecer quanto eu custo pode ser o primeiro passo para ter uma idéia mais tangível sobre quem eu realmente sou.
Não sei ainda se farei mesmo a tatoo. Mas sei que, se descobrir que eu realmente a quero, eu a farei.


* Imagem enviada por um amigo que tem um enorme dragão tatuado nas costas.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Lá atrás...


Hoje o tempo me pareceu algo tão peculiar que me senti mal. Aquela angústia que me gerou a vontade de voltar atrás e fazer tudo de novo, só que com os subsídios que antes eu nem sonhava ter.
Aí me peguei elaborando planos que talvez fossem infalíveis para aplicar em determinadas situações e me perguntei:
- Será que os caminhos diversos me levariam a outro lugar?
- Certamente, minha voz interior respondeu.
- Mas será que eu estaria me sentindo melhor hoje?
Nessas horas lembro-me de filmes interessantes, como Efeito Borboleta e De Volta Para o Futuro...
Isso me gera alguma conformação.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A médica, o celular, a confiança e a inconveniência.


Hoje minha mãe sentiu-se mal, pela manhã, mas como o tempo foi passando e ela não tinha previsão de alta, achei por bem comer alguma coisa. Fui até a cantina do hospital (onde a havia levado na emergência) e presenciei uma cena bastante intrigante.
Na verdade, isso é o que existe de mais previsível, mas, às vezes, sinto que muita gente se esquece.
Uma médica fazia caras e bocas, expressando tremenda irritação, enquanto ouvia alguém pelo celular. Após alguns minutos ela disse algo que eu não consegui entender direito e desligou a chamada. Em seguida, pude acompanhar sua conversa com uma moça que estava sentada à sua mesa. O diálogo foi mais ou menos assim:
- Incrível como as pessoas te ligam e sequer perguntam se você pode falar... A criatura ligou e foi falando, falando, falando... E eu tive de aproveitar a primeira brecha para inventar uma desculpa e desligar. Ninguém merece!
- E quem era?
- Ah... Era uma problemática aí que me liga direto. E o pior é que eu nem tenho como ajudar a resolver o caso dela, e eu já dei a entender isso, mas ela não se toca! Qualquer hora dessas eu vou ter que dizer que sou médica e não psicóloga!
Pouco tempo depois eu terminei de almoçar e resolvi me levantar. Daqui a pouco poderiam pensar que eu havia ficado apenas para escutar a conversa... Fui embora, mas a lição ficou. Melhor dizendo, as lições ficaram.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Uui!


Ontem fui, finalmente, ao salão abandonar as influências de Frida Kahlo (pelo menos durante os próximos 20 dias).
Enquanto estava lá, escancarada, ouvindo as histórias polêmicas de minha depiladora (isso mesmo, ela insiste em usar esse artifício para me distrair, não sei se numa tentativa de me fazer esquecer de minha condição patética, ou da dor mesmo), lembrei-me de um texto engraçadíssimo (não sei se a identidade fomentou minha risada, ou se pode ser considerado um bom texto realmente).
Tirem suas próprias conclusões. Mas eu digo que nunca li nada mais fidedigno e tangível ao nosso “sofrimento”.

Depilação cavada

- "Tenta sim. Vai ficar lindo."
Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve. Mas acho que pentelho não pesa tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa. Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria. Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.
- "Oi, queria marcar depilação com a Penélope.
- "Vai depilar o quê?"
- "Virilha."
- "Normal ou cavada?"
Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito.
- "Cavada mesmo."
- "Amanhã, às... deixa eu ver...13h?"
- "Ok. Marcado."
Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique.
Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado.
Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de Calígula com O Albergue. Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso
cantinho: uma maca, cercada de cortinas.
- "Querida, pode deitar."
Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca. Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus , era O Albergue mesmo. De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte.
- "Quer bem cavada?"
- "...é ... é, isso."
Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.
- "Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda.
- "Ah, sim, claro.
Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia. Mas confiei. De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula melada de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça).
- "Pode abrir as pernas."
- "Assim?"
- "Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado."
- "Arreganhada, né?"
Ela riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar. Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural.
Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.
- "Tudo ótimo. E você?"
Ela riu de novo como quem pensa "que garota estranha". Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter clientes.
O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam a todos porque se cansam de sofrer sozinhas.
- "Quer que tire dos lábios?"
- "Não, eu quero só virilha, bigode não."
- "Não, querida, os lábios dela aqui ó."
Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios ? Putz, que idéia.
Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo.
- "Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor."
Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail.
- "Olha, tá ficando linda essa depilação."
- "Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto."
Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo. - "Me leva daqui, Deus, me teletransporte". - Só voltei à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.
- "Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?"
- "Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada."
Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da puta arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.
- "Vamos ficar de lado agora?"
- "Hein?"
- "Deitar de lado pra fazer a parte cavada."
Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.
- "Segura sua bunda aqui?"
- "Hein?"
- "Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda."
Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho que nada vê... Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:
- "Tudo bem, Pê?"
- "Sim... sonhei de novo com o fiofó de uma cliente."
Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu twin peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve ver mil cús por dia. Aliás, isso até aliviava minha situação. Por que ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá?
Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.
- "Vira agora do outro lado."
Porra.. por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A bruaca da salinha do lado novamente abre a cortina.
- Penélope, empresta um chumaço de algodão?
Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem?
Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.
- "Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha."
- "Máquina de quê?!"
- "Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol."
- "Dói?"
- "Dói nada."
- "Tá, passa essa merda..."
- "Baixa a calcinha, por favor."
Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha!!!...como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao cú. O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável.
" - Prontinha. Posso passar um talco?"
- "Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha."
- "Tá linda! Pode namorar muito agora."
Namorar...namorar... eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso . Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada.


* Ouvi dizer que o texto é de Patrícia Travassos, mas não tenho certeza.